Escapar ou morrer—Larkwood não é para fracos.
Quando cheguei à Academia Larkwood, estava certa de que alguém me iria salvar. Mas, após estar meses à mercê dos guardas, de outros residentes, e até da Diretora, percebi que a única pessoa capaz de me salvar era eu própria.
Para escapar, juntei-me a outras três sombras—Wade, um obscuro jovem e despreocupado, Knox, um íncubo que teme os seus próprios poderes, e Brax, um berserker que parece odiar-me tanto como me quer. Ao mesmo tempo, temos de esconder os nossos planos de Deacon, um guarda que não é bem humano nem sombra, e Kit, um professor auxiliar demasiado ligado à Diretora, e com um poder aterrorizante.
Mesmo enquanto desvendo as verdades escondidas por trás da misteriosa e perigosa Torre Norte, enquanto a Diretora se torna ainda mais interessada em mim e nos meus poderes, e eu busco desesperadamente por uma saída, percebo que só há uma escolha.
Entre escapar ou morrer, eu não estou preparada para a segunda…
General Release Date: 15th March 2024
Não havia momento em que sentisse mais a falta da minha voz do que quando Deacon me tocava, quando eu abria a minha boca e queria gemer o nome dele.
Ok, havia outras alturas que também me incomodavam—quando eu queria dizer umas verdades a alguém, queria explicar-me, ou quando apenas queria ser ouvida. Essas alturas chateavam-me, mas a perda não me incomodava tanto do que quando Deacon provocava-me com os lábios dele sobre os meus seios, e a falta de som da minha parte fazia o momento parecer incompleto.
Não que ele se parecesse importar—ou talvez seja melhor dizer que conseguia facilmente fazer compensar. Ele poderia não ser o homem mais expressivo no dia a dia, mas tudo isso mudava na cama.
Por um momento olhei à minha volta, a dar conta do canto silencioso numa barraca no pátio onde nos escondemos. Cama talvez seja um exagero...
Nós não podíamos arriscar sermos apanhados, e por isso restava-nos encontrar sítios isolados para os nossos pequenos encontros. Nenhum de nós queria tornar-se uma fraqueza para o outro.
— Senti a tua falta, — sussurrou Deacon na sua voz baixa e áspera contra a minha pele, com a respiração dele quente e acelerada.
Eu adorava estes momentos, adorava como ele perdia a compostura que normalmente tinha, e parecia igual aos outros. Normalmente Deacon era extravagante, um guarda na Academia Larkwood de quem até os outros guardas temiam e desconfiavam.
Mas, nestes momentos, ele não era nada daquilo. Apenas era meu.
Pus a mão atrás do pescoço dele e aproximei-o, puxando-o para o meu corpo até que pudesse usar os lábios para dizer-lhe tudo o que não conseguia com um beijo.
Ele grunhiu contra os meus lábios e agarrou-me na coxa para colocá-la à volta dele. O meu traseiro pressionava a pequena mesa onde estava sentada, mas eu não queria saber de nada. Nem das lascas, nem do desconforto, nada para além de afogar-me nestes raros momentos de felicidade.
Vivia em Larkwood há meses, e tinha, na maior parte, aceite a brutalidade que era agora o meu mundo, o que tornava estes momentos ainda mais importantes. Quando o Deacon tocava-me, quando grunhia no meu ouvido, todo o horror da minha vida desaparecia.
Cravei as unhas nas costas dele, enquanto ele penetrava o seu membro dentro de mim. Eu sentia sempre um ardor magnífico quando ele me dominava, quando eu conseguia sentir-me completamente preenchida por ele.
Assim, perdi-me nele, na sua força, e nos elogios sussurrados que ele oferecia. Mas, demasiado cedo chegou ao fim. Tive de limpar-me à pressa, puxar as calças para cima e pentear o cabelo com os dedos para algo apresentável. Nós nunca tínhamos muito tempo, nunca podíamos usufruir da felicidade pacata que as pessoas normais aproveitavam quando passavam a noite a desfrutar de movimentos sensuais e beijos meigos.
Deacon abotoou as calças, com a sua expressão de volta à trancada do costume que ele mostrava a toda a gente. Sem dúvida que uma das razões pelas quais eu estimava o tempo que tínhamos era por ser a única oportunidade que tinha para vê-lo de verdade.
— Tens de ter mais cuidado, — murmurou.
Virei-me para ele e franzi as sobrancelhas.
O fecho das calças dele ouviu-se alto na barraca silenciosa. — Tens guardas de olho em ti. A Diretora emitiu um aviso para estarmos atentos a ti. Achas que não sabem que andas a encontrar-te com aqueles delinquentes que pareces achar serem teus amigos?
Pressionei os meus lábios juntos e estreitei os meus olhos. Claro que o Deacon não queria saber das outras ligações que eu tinha feito—ele considerava perigosas todas as sombras, por isso qualquer outro residente era um risco para mim.
Mas ele não via que tudo era um risco para mim. O mundo inteiro parecia querer desfazer-me em pedaços até não sobrar nada.
Ele aproximou-se e pousou a mão atrás do meu pescoço, a inclinar a minha cara para que eu olhasse diretamente para aqueles olhos roxos brilhantes dele. Olhos que no passado apresentaram-me à minha nova vida, mas que agora significavam muito mais para mim. — Eu não quero perder-te, Hera. Não podes confiar em ninguém, não baixes as tuas defesas. O que quer que seja que eles te estejam a tentar convencer, irá acabar por matar-te.
Pus a mão sobre o peito dele e empurrei. Ele não se mexeu por causa da minha pressão, mas sim porque escolheu fazê-lo. Eu podia ter usado os meus poderes, a minha habilidade de controlar ondas sonoras, mas eu tentava ao máximo manter isso resguardado. Tinha finalmente conseguido não usá-la acidentalmente, por isso mantinha-a com rédea curta. Apesar de ele já ter presenciado a minha habilidade, não tinha noção da sua amplitude.
— Não tens nada a dizer? — Irritação passou-lhe pelas feições, mas eu não tinha medo dele. Conhecia-o o suficientemente para saber que ele nunca me iria magoar, pelo menos não de propósito. Tudo bem que ele era um guarda do sítio que me mantinha capturada, mas ele fazia tudo o que podia para proteger-me.
"Ninguém me força a nada," gestuei para ele.
— És demasiado ingénua, — disse irritado. — Achas que não sei que eles são um perigo? Que andam à procura de alguma saída mágica? Olha uma coisa, este sítio há muito que se mantém de pé, e nunca alguma sombra de nível um conseguiu escapar. Mas muitos morreram a tentar. Não quero saber do quão amigos tu pensas que eles são, se lhes beneficiar, eles vão deixar-te cair com as culpas.
As palavras do Deacon eram duras, mas previsíveis.
Andávamos nisto há semanas desde que saí da solitária depois de ser apanhada a invadir a sala de arquivos. Deacon era esperto o suficiente para saber que eu andava a aprontar algo, mas pressionar demasiado podia acabar por tornar-me um alvo ainda maior. Isso tinha criado uma barreira entre nós que magoava mais do que eu queria admitir.
Eu odiava ter de separar a minha vida, de esconder coisas das pessoas ao meu redor, mas eu não tinha hipótese.
O Deacon não podia descobrir os planos que eu tinha com o Wade, o Knox, e o Brax, e eles os três não podiam saber a dimensão da minha relação com o Deacon.
Apesar de eu ter a sensação de que os homens da minha vida tinham más convicções uns dos outros. Eu via na maneira que se olhavam, na agressão que mostravam ao falarem dos outros. Sem dúvida que cada um achava que eu andava a dormir com todos os outros.
O que não era verdade.
Embora... não fosse por falta de esforço da minha parte.
Acontece que romance revelou-se um conceito tão desconhecido para mim como a economia de outros países, ou as regras do futebol. Ir para a cama com outras pessoas era afinal mais difícil do que alguma vez imaginei. Lembrei-me das vezes na adolescência em que ouvi como os rapazes eram uns animais que só queriam uma coisa, e eu, como mulher, tinha de ter cuidado para não se aproveitarem de mim.
No entanto, aqui, maior parte dos homens não se aproveitava de mim como eu queria, não importava como eu tentasse tentá-los.
E não era como se dizer-lhes isto fizesse alguma diferença. A ilusão era um modo de vida aqui em Larkwood, e nós todos tínhamos os nossos segredos.
"Não discutas comigo. Não temos muito tempo."
— Não estou a tentar discutir, — assegurou-me, apesar do tom agressivo que ele usava apenas para discutir. — Só estou preocupado contigo. Tenho medo de abrir o meu e-mail e ver o teu nome na lista para a Torre Norte. Eu não quero isso.
Para dizer a verdade, nem eu. Apesar da Torre Norte parecer ser a minha única opção para escapar, eu ainda não estava pronta para enfrentar esse terror. Precisava de um plano melhor, de mais informação—tudo o que me desse alguma vantagem.
Mas não era como se pudesse admitir isso ao Deacon. Se ele descobrisse qualquer plano de fuga que eu tivesse, ele iria arruiná-lo para me proteger.
Por isso, tinha de manter tudo segredo e fingir que nada se passava. "Não precisas de te preocupar comigo."
Ele fez um som grave na garganta, como se não pudesse crer o quão idiota eu era. — Claro que preciso. Hera, tu és um perigo, e só atrais sarilhos como a porra de um íman. Não te esqueças que fui eu que te salvei na noite em que mudaste. Eu assisti a tudo. Sei exatamente o quanto tu precisas de que alguém se preocupe contigo.
Baixei o meu olhar ao lembrete penoso. Se não fosse o Deacon, eu teria morrido naquele parque de estacionamento. Teria esvaído em sangue por causa do homem que me cortou a garganta, que me tirou a voz.
Mas Deacon ouviu o meu grito e salvou-me.
E depois trouxe-me para Larkwood...
É uma relação complicada.
Ele aproximou a mão dele, mas não me tocou na cara. Em vez disso, tocou na cicatriz da minha garganta, na razão para eu não conseguir falar.
— Quase morreste. Isto aconteceu porque o mundo não gostou do que tu eras. Daquela vez salvei-te, mas eu estou apavorado de não conseguir fazê-lo da próxima vez, de tu fazeres uma estupidez numa situação em que nada eu possa fazer. — As palavras dele foram tão mansas, tão tristes, o que me surpreendeu.
Forcei-me a olhar novamente para os seus olhos, e vi a dor e o medo que estavam dentro deles. Apesar de todos os defeitos de Deacon—que não eram poucos—ele não era má pessoa. Ele queria o melhor para mim.
O problema?
Nós não concordávamos no que o melhor era. Ele queria que eu vivesse, mesmo que perdesse tudo o resto. Eu queria a liberdade, mesmo que tivesse de arriscar a minha vida para tê-la.
Era um impasse que eu não sabia como resolver.
— Eu não quero ver-te a ser eliminada por quereres escapar, — sussurrou.
Forcei a minha mão para cima para poder gestuar em resposta. "Não estou a planear nada."